quarta-feira, 9 de outubro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Conheça o mapa da primeira aventura no Reino do Portal

Olá!!
A primeira edição do livro O enigma da Adormecida não tem o mapa da primeira aventura no reino. Mas, na próxima, isso já estará corrigido. ;)
Mas, para aqueles que já têm o livro ou para os curiosos que queiram saber onde a primeira aventura das Crônicas do Reino do Portal se passa, aqui está o mapa. ;)
Para quem ainda não sabe, a proposta da série é ir desvendando o universo junto com os personagens, por isso o mapa irá se compondo em cada um dos exemplares...
(a arte do mapa é de Luciana Waack)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

As portas já estão abertas! =)

Olá!
As portas do reino já estão abertas...
Que tal se aventurar através delas? =)
Conheça a primeira aventura da série: O enigma da adormecida.
Fica o convite:

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Pré-venda!

Garanta seu exemplar do primeiro livro da série!
Compre pelo PagSeguro (botão de compra na barra ao lado) ou por depósito bancário (informações pelo email da autora: simone.odete@uol.com.br )
Degustem o primeiro capítulo do livro no post abaixo e conheçam uma aventura fantástica que vai levá-los para um mundo novo, repleto de aventuras e desafios...

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Degustação - capítulo 1 - Batismo de Fogo

Marcelo despertou sentindo um latejar incômodo na cabeça. Forçou os olhos tentando se lembrar de onde estava. Uma nuvem branca de fumaça saiu de sua boca. Estava frio ali. Sorte sua que usava uma jaqueta preta de couro. Na verdade estava deitado de roupas e botas. Teria bebido demais durante a festa? Uma penumbra tomava o ambiente. Havia um lampião pendurado na parede oposta de onde ele estava. Lampião? Estaria num sítio? Sentou-se apertando os lados da cabeça. Lentamente sua vista foi se acostumando à pouca luz e ele viu alguém sentado numa cama ao lado.
- O que tá acontecendo aqui? – ele se levantou já sentindo a adrenalina correr pelo corpo. Iria matar o desgraçado que aprontara aquele trote.
- Também não sei... – o outro rapaz, que estava sentado na cama ao lado, falou atordoado balançando a cabeça. – Juro que não bebi nada.
Marcelo olhou em volta. Havia mais gente dormindo ali. O que era aquele lugar? Um albergue? Teria caído de bêbado na rua e o teriam levado até ali?
O rapaz da cama ao lado também se levantou e foi até a outra cama. Marcelo seguiu com os olhos seus movimentos no ambiente pouco iluminado. Era um completo estranho, nunca o vira antes.
- Ei, cara... pode vir aqui? – ele chamou Marcelo que, desconfiado, se aproximou da cama. Havia um rapaz deitado ali, era negro, a cabeça raspada e dormia de óculos. – Será que está morto? – o rapaz perguntou ao lado da cama.
Marcelo inclinou-se e colocou a mão diante do nariz do jovem negro.
- Não. Está respirando.
- E os outros? – o rapaz olhou para ele. Deveria ter sua idade, tinha os cabelos loiros levemente encaracolados, os olhos eram castanhos e estavam assustados.
- Não sei. – Marcelo correu os olhos pelo aposento. Era um lugar grande, não dava para ver o teto por causa da escuridão. Havia uma pequena janela a uns dez metros do chão, por onde podia ver o céu escuro. Era noite e estava frio. O rapaz loiro ao seu lado esfregou os braços vigorosamente. Usava uma blusa de malha de mangas compridas, mas, com certeza, não era suficiente para esquentá-lo. Marcelo agradeceu a si mesmo por nunca se separar de sua jaqueta.
- Como viemos parar aqui? – o rapaz perguntou olhando em volta.
- Não faço a mínima ideia. - Marcelo começou a caminhar entre as camas. Vira uma porta do lado direito daquele galpão e iria testá-la. O rapaz caminhou atrás dele e os dois chegaram à porta. Era de ferro e estava trancada. Ele tentou empurrá-la, mas definitivamente estava fechada por fora. Olhou para as dobradiças, eram novas. A parede daquele lugar era de madeira, mas estava bem firme.
- Como vamos sair? – o rapaz falou apalpando a parede ao lado da porta.
- Não faço a mínima ideia.
- Quem é você? – de repente o outro parecia interessado em conhecê-lo e ele não gostou daquilo. Não era de muitos amigos, não era sociável e não gostava de gente andando atrás dele. Parou e encarou o outro jovem.
- Por que quer saber? – falou ríspido, mas o outro pareceu não se assustar com sua falta de educação.
- Cara! Vê esse lugar? Vê essas pessoas? Conhece algumas delas? Eu não! Não conheço você! – falou aflito apontando para as outras camas e depois apontou para o peito de Marcelo, que se virou suspirando.
- Você fala demais.
- E você fala de menos! Qual é cara! Estamos numa fria! Tá vendo que só tem aquela janela lá em cima? A porta é de aço! E não sei quanto a você, mas eu não faço ideia de como vim parar aqui! – o rapaz parecia querer entrar em pânico e Marcelo só conhecia uma maneira de fazer alguém se controlar, dando-lhe um soco na cara. Segurou-se para não ceder à tentação. Viu que uma outra pessoa havia se sentado na cama.
- Tem mais um acordando ali. – Marcelo apontou na direção da cama e os dois ficaram olhando naquela direção.
- Cacete! Ai... minha cabeça! – era um rapaz, usava uma camiseta de mangas curtas bem justa no corpo. Ele esfregava as mãos na cabeça. Seus cabelos eram curtos e castanhos.
- Logo melhora, cara! – o acompanhante de Marcelo falou animador. Marcelo olhou para ele, era um rapaz esquisito, certamente.
- Que porra tá acontecendo aqui? – o recém-despertado se levantou nervoso olhando para os lados. Era bastante alto, musculoso e intimidador.
- É o que estamos nos perguntando... quer dizer, eu, pelo menos... – novamente o tagarela se pronunciou.
- Que lugar é esse? – o dono da camiseta apertada perguntou olhando em volta e para cima.
- Não sabemos... – o tagarela falou e suspirou.
- Ai... quem são vocês? O que... estou fazendo aqui? Fui sequestrada! – uma jovem gritou desesperada na cama do outro lado do aposento. Ela apertou o lençol diante do corpo e arregalou os olhos azuis.
- Calma... precisamos descobrir! – o tagarela se manifestou novamente e Marcelo fez uma careta.
- O que podem querer comigo? Eu não estou gostando disso! Eu tenho que sair daqui! – a garota começou a respirar com dificuldade.
- Como viemos parar aqui? – uma outra garota sentou-se na cama e falou colocando a mão na cabeça.
- Ei!! Todo mundo! – o camiseta apertada gritou chamando a atenção. – Obrigado por sua atenção! Agora... estão todos acordados? – ele perguntou como se fosse o comandante de alguma coisa e Marcelo não gostou daquilo.
- Não... essa aqui ainda dorme. – uma outra garota que havia despertado falou sentando-se na cama ao lado.
- Está viva? – o tagarela perguntou.
- Parece. Pelo menos respira. – a garota parecia aliviada.
- Deixe-me ver se está machucada. – Marcelo se manifestou e se aproximou da cama. A garota que ainda dormia tinha os cabelos escuros e a pele muito clara. Os lábios estavam rosados, assim como as bochechas. Ele olhou na cabeça dela para ver se havia algum ferimento, mas não achou nada.
- E então? – a outra garota, com a pele cor de jambo e olhos escuros amendoados o olhava ansiosa.
- Não tem nada visível... – Marcelo respondeu sentado na cama.
- Bom... é o seguinte! Não sei se todos perceberam que estamos presos neste galpão. Todos veem aquela janela e aquela porta. Alguém já testou a porta? – o rapaz da camiseta justa falou novamente num tom alto o suficiente para chamar bastante atenção para si.
- Claro! Não tem nenhum idiota aqui! – Marcelo resmungou mal humorado.
- Idiotas ou não, temos que arrumar uma maneira de sair daqui. – o senhor exibido da camiseta justa respondeu.
- Nossa! Esse era o meu sonho! Apesar do ambiente aqui ser agradável... Mas, como a inteligência suprema pensa em fazer isso? – Marcelo se levantou e encarou o rapaz mandão.
- Podíamos subir uns nos ombros dos outros... fazer tipo... uma escada humana? – o rapaz, olhando-o nos olhos, respondeu, mas não conseguiu passar a segurança pretendida.
- Ah, claro! E quem é o Hércules que vai ficar na base dessa escada? Você? – a voz foi do jovem negro que despertara e observava a discussão.
- Podíamos fazer uma corda com esses lençóis... – foi a vez do tagarela falar de novo.
- Tá e quem vai prender ela lá em cima? Ou é só jogar e rezar para que enrosque em um prego? – uma jovem bem loira e miúda, o encarou desafiadora.
- Socorro! Alguém está ouvindo? Socorro! – a desesperada, que ainda se agarrava aos lençóis, começou a gritar.
- Nós estamos ouvindo alto e claro, querida. - a jovem loira respondeu num misto de sarcasmo e delicadeza. Marcelo sorriu com aquela atitude. Ela era espirituosa. Em seguida se levantou e olhou na direção da porta.
- Chega de devaneios. Estamos nessa caixa e fomos colocados aqui por alguém. E... se alguém estiver nos observando agora, quero que saiba que quando eu sair daqui vou enforcá-lo nas próprias tripas. – a voz de Marcelo soou o mais ameaçadora que ele conseguiu.
- Argh! – a desesperada parecia que ia vomitar.
- Realmente não seria uma boa visão... – o tagarela falou baixo ao lado dele.
- Será que tem alguém nos observando? Acha que há microcâmeras? – a garota cor de jambo perguntou olhando em volta.
- Será um reality show? Eu não me inscrevi em nada... – o rapaz negro falou em tom de brincadeira.
- O que está fazendo? – a jovem loira virou-se para a porta de onde viera um estrondo.
- Tentando arrombar essa porta! – o camiseta justa falou depois de bater na porta com um pedaço de madeira que encontrou caído no chão.
- Eu assisti tantos filmes de terror que tem esse cenário! Já viram aquele que prendem pessoas num cômodo e... – o tagarela falou e foi interrompido pela loira espirituosa.
- Já! E garanto que se isso fosse um filme, sua língua já teria sido arrancada! – ela colocou as mãos na cintura.
- Vão deixar a gente aqui para morrer? Vão jogar algum gás letal? Nos envenenar? Ou esperam que comecemos a comer uns aos outros? É um teste! – a desesperada dos olhos azuis falou se levantando da cama.
- Eu comeria algumas por aqui... – o camiseta justa falou com um sorriso lupino no rosto olhando diretamente para a loira aprumada, que lhe devolveu um olhar mortífero
- O que faremos? – a garota cor de jambo interferiu.
- Que tal fazermos um círculo e cantarmos kumbaia? – O negro falou e riu.
- Que situação ridícula. – Marcelo murmurou encostando-se à parede.
- E se ela não acordar? – a garota jambo falou segurando a mão da garota adormecida.
- Do jeito que a coisa vai é melhor que ela não acorde mesmo... eu tô pensando em voltar a dormir. – o jovem negro falou deitando-se na cama novamente.
- Vamos ficar de braços cruzados? Aceitar essa prisão assim? Sem reagir? – o camiseta justa falou mexendo os braços fortes com vigor. Talvez só quisesse mostrar os músculos, observou Marcelo.
- Meus pais vão sentir minha falta! Já devem ter colocado alguém atrás de mim! A polícia deve estar me procurando! – a desesperada dos olhos azuis falou andando nervosa entre as camas.
- Nossa! Que bom que temos alguém da nobreza entre nós! Por um acaso você não tem um chip implantado no corpo com um GPS? Isso ajudaria muito! Eu posso procurar pra você... – o camiseta justa a segurou pelo braço.
- Pega leve, cara... – o tagarela foi em defesa da garota.
- Grosso! – ela falou puxando o braço com força e ficando do lado do tagarela. Marcelo não pôde deixar de pensar na esperteza do língua solta.
-Você não faz ideia! – o camiseta justa falou fazendo uma cara pretensamente sensual.
- Shhh!! – Marcelo ouviu sons que vieram do outro lado do barracão. Pareciam cascos de cavalo
- O que foi? – o tagarela aproximou-se dele.
Todos ficaram calados por um momento e puderam ouvir o que parecia ser alguns cavalos do lado de fora, mas não ouviram vozes.
- Socorro!! – a desesperada começou a gritar e o camiseta justa agarrou-a pelo braço e cobriu sua boca com a mão. Ela esperneou o olhando apavorada. A jovem loira se aproximou e tocou no braço dela e fez sinal para que se calasse. Ela concordou com a cabeça e então a loira olhou para o camiseta apertada e ele soltou a desesperada, que agarrou-se assustada ao braço da loira.
Os cavalos pareciam circular aquele galpão onde eles estavam. Marcelo acompanhou o som com os olhos e viu quando o que parecia ser uma tocha iluminou por entre uma falha na madeira do galpão. Ele correu naquela direção passando por cima de um monte de feno que havia no canto. Olhou pela fresta. Sentiu a brisa fria da noite que passou por um vão de mais ou menos vinte centímetros. Viu dois homens que caminhavam entre os animais. Usavam capas longas e que cobriam até suas cabeças. Um deles riu e jogou a tocha contra a parede de madeira e um monte de palha.
- Vai queimar. – Marcelo falou olhando para seus companheiros de prisão e todos o olharam num misto de medo e apreensão. – Temos que sair daqui. – ele disse olhando em volta procurando algo com que pudesse abrir aquela falha que encontrara na parede. – Procurem alguma coisa para arrebentar essa parede! – falou baixo e todos saíram procurando alguma coisa pelo chão e pelas camas.
Marcelo viu quando as chamas começaram a aumentar do lado de fora atingindo a palha. Não queria entrar em pânico, mas todos iriam virar churrasco ali dentro, isso se não morressem asfixiados antes.
- Tente isso! – a jovem loira lhe entregou um machado sem o cabo. Marcelo enfiou o fio do machado pela fresta tentando aumentar a abertura e ferir a madeira, enquanto a fumaça começava a entrar pelas frestas das paredes.
A jovem cor de jambo começou rapidamente a rasgar pedaços dos lençóis que estavam sobre uma das camas e os estendeu aos amigos de cárcere.
- Coloquem sobre a boca e o nariz. – ela falou amarrando um pedaço de lençol em seu rosto.
Marcelo conseguira abrir um pequeno buraco na madeira. Trabalhar com um machado enferrujado sem o cabo não era nada fácil. O rapaz da camiseta apertada apareceu com um pedaço grosso de madeira que havia usado para bater na porta e o enfiou pelo buraco recém-aberto, usando a madeira como alavanca. Os outros rapazes pegaram na madeira e o ajudaram a fazer o movimento. Ouviram quando a madeira da parede se partiu revelando um espaço de quase um metro de largura. Marcelo e o camiseta justa começaram a chutar os pedaços de madeira tentando abrir mais espaço para que pudessem passar. Marcelo não havia coberto a boca e começou a tossir sentindo a fumaça queimar seus pulmões. Mas agora o que ele queria era sair dali. Eles empurraram a madeira usada de alavanca ainda mais e uma grande lasca se soltou da parede ao mesmo tempo em que o fogo penetrou por uma das frestas jogando uma enorme labareda para dentro do galpão. Tudo se iluminou e o ambiente foi totalmente revelado. Era uma espécie de celeiro, com oito camas de madeira forradas com palha e cobertas por lençóis. Havia um monte de feno ao lado de onde eles abriam a parede e mais nada naquele lugar.
O rapaz da camiseta justa foi o primeiro a sair. Ele arranhou os braços descobertos nas farpas de madeira, mas se colocou para fora olhando para os lados verificando se não havia ninguém e então apareceu diante da fenda da parede.
- Venham! – ele falou e a jovem cor de jambo passou pela abertura, seguida pela desesperada.
O rapaz negro passou em seguida.
- Não podemos deixá-la aqui! – a jovem loira falou ao lado da cama da adormecida e tentou erguê-la. O tagarela foi até ela. As chamas tomavam conta do ambiente e a fumaça circulava em enormes rolos escuros.
- Sai! – Marcelo gritou para a jovem loira e foi ajudar a pegar a jovem adormecida que tinha a pele clara salpicada por cinzas. Ele e o tagarela a levantaram e foram até a fenda.
Um enorme caibro do telhado caiu sobre as camas e as chamas tomaram conta de tudo. Marcelo, junto à parede, segurou a jovem adormecida por baixo dos braços, enquanto o tagarela a pegava pelas pernas... eles a passaram pela fenda com enorme dificuldade. Do outro lado, o camiseta justa ajudou a pegar a garota e Marcelo passou por último pelo buraco. Eles correram em direção ao que parecia ser um estábulo. O ar gelado da noite penetrou nos pulmões de Marcelo, criando uma sensação contrastante com a da fumaça que ele inalara. Ele puxou o ar tossindo. Precisava de água...
Quatro cavalos se agitaram nas baias quando o grupo entrou no estábulo. Não havia nem sinal dos dois encapuzados que haviam incendiado o celeiro. Todos do grupo tossiam e ofegavam. Agora o jovem da camiseta justa carregava a jovem adormecida. Eles pararam à porta do estábulo e viram o grande celeiro queimar fazendo uma fogueira gigantesca e assustando os cavalos.
Marcelo arrastou-se até um balde de madeira junto a uma das baias. Não queria saber se a água era limpa ou suja ou se algum dos cavalos havia enfiado o focinho ali. Pegou com as mãos uma quantidade generosa de líquido e jogou no rosto, esfregando os olhos que ardiam muito e depois bebeu.
O tagarela o imitou e jogou a água gelada no rosto esfregando os olhos, mas não conseguiu bebê-la. Logo, todos estavam lavando o rosto com a água de origem duvidosa. Marcelo pegou o balde com o restante da água e foi até a jovem adormecida que estava jogada sobre o feno. Ele encheu a mão de água e passou no rosto dela. A jovem loira e a cor de jambo estavam ajoelhadas ao lado dele. A jovem cor de jambo molhou o pedaço de lençol que cobrira seu rosto e passou água mais generosamente no rosto da garota adormecida. Apesar daquilo ela não despertou. Marcelo debruçou-se sobre a jovem e encostou o rosto contra os lábios cor de rosa e sentiu o hálito quente dela. Por que ela não acordava?
Por bastante tempo ninguém disse nada. Nem o tagarela, para surpresa de Marcelo. Todos procuravam controlar a respiração, esfregavam os olhos ardidos e olhavam para o galpão em chamas. Estavam vivos, mas onde? O jovem negro acalmava os cavalos junto com a jovem loira e a desesperada chorava baixinho encolhida sobre o feno. A garota jambo foi até ela e a abraçou. Marcelo ficou sentado ao lado da jovem adormecida, viu que ela usava um vestido de tecido fino e seus poros estavam todos arrepiados. Tirou a jaqueta e a colocou sobre ela. O tagarela e o camiseta apertada vieram sentar-se ao lado dele. Os três ficaram olhando para as labaredas que se levantavam do já destruído celeiro.
- Havia dois homens aqui... – Marcelo se levantou esfregando os braços. Fazia muito frio.
- Saíram correndo quando colocaram fogo na gente? – o fortão da camiseta apertada falou olhando em volta. Não havia nada ali além de feno e quatro cavalos.
- Mas deixaram os cavalos? Pra quê? Ajudar a gente a fugir? – o tagarela falou arqueando as sobrancelhas.
- Vou descobrir para onde foram e onde estamos. – Marcelo foi até a porta olhando para fora. O tagarela parou ao lado dele.
- Vou com você. – falou com os lábios roxos de frio.
- Eu também. – o camiseta justa também parou ao seu lado.
Marcelo olhou para o jovem negro e para as garotas dentro do estábulo. Era um grupo estranho e desconhecido. - Esperem aqui que já voltamos. – ele falou indo para a porta.
- Tomem cuidado. – a garota jambo falou e ofereceu um sorriso sincero ao trio.
- Tome conta delas. – Marcelo olhou para o rapaz magro e negro que ajeitava os óculos no rosto. Sabia que ele não conseguiria fazer nada caso alguém as atacasse.
- Não precisamos disso. – a garota loira o olhou desafiadora.
- Que seja. – Marcelo deu de ombros e saiu do estábulo com o tagarela e o camiseta justa na sua cola.
- Ei! – o camiseta justa falou baixo atrás dele. Marcelo se virou. – É melhor prevenir... – disse jogando um pedaço de madeira na mão de Marcelo, ele já segurava um outro pedaço, assim como o tagarela.
Marcelo não estava acostumado a receber ordens e não gostava daquilo. Era sempre um cavaleiro solitário, não era muito a favor de grupos. Agora se via envolvido com aquele grupo estranho. Eles escaparam da morte juntos. Nenhum deles sabia o que fazia ali ou como havia chegado ao celeiro, mas precisavam sair daquele lugar. O celeiro agora se parecia com uma enorme fogueira, um amontoado de lenha que queimava. Marcelo estava cismado. Ninguém mais vira aquele fogaréu? Ninguém aparecera ali para tentar apagar o incêndio?
- Você... acha que botaram fogo no celeiro de propósito? – o tagarela falou ao lado dele batendo o queixo e Marcelo não sabia se era de frio ou de medo.
- Acho. – Marcelo respondeu e eles se aproximaram das chamas do antigo celeiro. Esquentou bastante ali e ficou até agradável.
- Eu não tô vendo ninguém se aproximar desse lugar, não acha isso estranho? – o camiseta justa falou do outro lado dele brandindo seu pedaço de madeira, como se lutasse, mas talvez só estivesse tentando esquentar o corpo, já que estava sem qualquer tipo de agasalho.
- Acho. – Marcelo tinha que concordar que também estranhara aquilo.
Olharam para trás e viram três figuras paradas à porta do estábulo.
- Não entendo por que deixaram os cavalos... – o tagarela falou com a voz trêmula.
- Talvez duvidassem que a gente conseguisse sair vivo do celeiro. – Marcelo falou pensativo olhando para os lados, mas estava bastante escuro longe das chamas do celeiro e uma névoa começava a cair. Não dava para ter ideia de como era aquele lugar. – O que não justifica esse desaparecimento. Se nos queriam mortos estariam aqui fora esperando para nos pegar...
- E esse frio? – o tagarela esfregava os braços vigorosamente – Até parece que vai nevar! Mas não estávamos no verão? – ele falava confuso.
- É muito estranho mesmo... – o rapaz grande com a camiseta apertada falou olhando desconfiado para os lados, enquanto de sua boca saía uma fumaça branca.
Marcelo forçou a vista mais à frente. Viu um vulto de uma construção sobre um morro.
- O que é aquilo? – apontou à frente.
- Um... castelo? – o tagarela falou olhando para o local com os olhos apertados tentando enxergar através da escuridão.
Marcelo tentou focar o olhar. Havia uma muralha de pedras certamente. Ele viu... uma torre?
- É um castelo! – o tagarela afirmou já convicto e admirado.
- Impossível! Onde estamos? – o camiseta justa falou tentando não parecer assustado, mas sua voz tremeu levemente. Poderia ser efeito do frio que começava a gelar os ossos dos três.
- Vamos olhar. – Marcelo apressou o passo em direção à muralha. Afinal, o que devia fazer? Voltar para o estábulo e ficar lá esperando? Esperando o quê? Que os dois homens que haviam incendiado o celeiro fossem terminar o serviço?
O tagarela e o camiseta justa se olharam rapidamente, se perguntando se realmente deveriam ir até aquele lugar, mas saíram com os passos apressados ao lado de Marcelo.
Perceberam que caminhavam por uma estreita trilha de pedras. A subida era bastante íngreme e a escuridão assustadora. Que falta fazia a luz elétrica! Caminharam por cerca de quinhentos metros. Estavam ofegantes e trêmulos de frio. De suas bocas saíam fumaças brancas que pareciam condensar-se rapidamente. Eles viram mais à frente um enorme portão de madeira que havia na grande parede de pedras. Marcelo olhou para trás. Dali podiam ver ainda as chamas do celeiro incendiado. Se houvesse alguém naquele lugar, certamente teria visto o incêndio dali e aquilo o deixou apreensivo.
Quando se aproximaram da muralha foi que perceberam sua dimensão. Era bastante alta, talvez a altura de um prédio de dez andares. O portão de madeira era igualmente alto, mas estava arrebentado, como se algum aríete tivesse sido lançado contra ele. O silêncio era sepulcral.
- Acho que devemos voltar para o estábulo e vir para cá com todos... – o camiseta justa falou ofegante antes de cruzarem o portão. – Vamos explorar esse lugar com a luz do dia. – ele disse olhando com desconfiança para o enorme portão.
- Agora ninguém irá nos ver... podemos explorar. – Marcelo disse passando pelo portão quebrado.
- Também não podemos ver se alguém está nos espreitando. – o camiseta justa falou segurando Marcelo pelo braço. Marcelo olhou furioso para a mão dele em seu braço e o rapaz retirou a mão.
- Está com medo? – Marcelo levantou a sobrancelha.
- Acho que ele está certo... – o tagarela falou tentando evitar a entrada naquele lugar escondido por uma escuridão absurda e envolto por um silêncio assustador. Que seres das trevas poderiam estar escondidos ali?
- Não acham que se quiserem acabar com a gente, basta botar fogo no estábulo também? – Marcelo parou e os encarou.
- Mas é diferente... agora não estamos presos. – o tagarela ponderou e Marcelo tinha que concordar pelo menos com aquele ponto. – Amanhã exploramos esse lugar. Parece que não tem ninguém em casa mesmo... – disse olhando para o pátio enegrecido além dos portões.
Marcelo podia mandá-los embora e tentar descobrir que lugar era aquele, mas não estava preparado para enfrentar algum bandido sozinho. Ele suspirou.
- Tudo bem. Voltamos amanhã pela manhã... se ainda estivermos vivos... – falou num tom sinistro.
Os três então pegaram a trilha de volta em direção ao estábulo.
- Eu não sei quanto a vocês, mas eu tô morrendo de frio. – o tagarela esfregava os braços enquanto desciam pela trilha.
- Temos que fazer uma fogueira. – o camiseta justa falou também esfregando os braços fortes e arranhados.
- Irônico. – Marcelo sorriu. – Acabamos de sair de uma enorme fogueira.
- Mas a gente ia ser a carne do churrasco! – o tagarela falou rindo. – Por falar nisso... tá batendo uma fome e nem quero pensar nisso... – concluiu desanimado.
- E também não fale nisso. – Marcelo o cortou secamente. Também começava a ficar com fome e não fazia a menor ideia se iriam conseguir alguma comida.
Eles passaram pelo incêndio que agora estava enfraquecido e viram que o estábulo estava iluminado. Alguém já fizera a fogueira. Marcelo só esperava que não tivessem aproximado as chamas do feno.
- E então? – o jovem negro os esperava à porta do estábulo.
- Tem um castelo lá na frente... mas tá tudo abandonado e sinistro pra gente entrar agora. Vamos amanhã. – o tagarela deu a notícia e se aproximou do fogo da pequena fogueira. Esticou as mãos na direção das chamas e começou a esfregar os braços gelados.
As três garotas que estavam em volta da fogueira olharam para o grupo que retornou da expedição. Estavam com a aparência de exaustão. A desesperada estava com os olhos inchados depois de chorar, mas parecia que finalmente percebera que de nada adiantava seu rio de lágrimas.
Marcelo viu a jovem adormecida aninhada debaixo de sua jaqueta e se sentou ao lado dela sobre o feno. O lugar estava se aquecendo, talvez devido à combinação de fogueira e bafo dos cavalos. Ele ficou olhando pensativo para a chama da fogueira. A jovem loira sentou-se ao seu lado. Ele viu que seus cabelos claros estavam salpicados de fuligem e feno, mas ela era bastante bonita. Tinha o rosto delicado, mas demonstrava um gênio difícil. Suas sobrancelhas eram castanhas e estavam arqueadas enquanto ela olhava para o fogo. Seus lábios estavam apertados e ligeiramente pálidos. As chamas da pequena fogueira refletiam-se nos olhos verdes escuros. Ele sentiu que os braços dela, cobertos apenas por uma blusa fina, estavam gelados.
- Bem... acho que há uma coisa que precisamos fazer. – o tagarela se manifestou sorrindo e todos olharam para ele. – Meu nome é Eduardo. Não sei se pra vocês isso faz alguma diferença, mas gostaria de chamá-los pelo nome.
- Eu disse que ainda iríamos cantar “kumbaia”... – o jovem negro sorriu expondo os dentes muito brancos. Ele ajeitou os óculos no rosto. – Eu me chamo André.
- Eu sou Adriana. - a jovem cor de jambo falou em seguida, enquanto molhava um dos pedaços de pano rasgados que usara para cobrir a boca e, com um gesto, se ofereceu para limpar o braço arranhando do camiseta justa..
- Eu me chamo Fernanda. – a jovem desesperada também se apresentou depois de fungar e passar a mão pelo rosto. Ela tinha os cabelos castanhos e grandes olhos azuis que agora estavam vermelhos de tanto que ela chorara. - Eu sou Eric. – o jovem da camiseta justa falou sem muita vontade e olhou para a jovem que limpava seus arranhões.
- Meu nome é Mônica. – a loira ao lado de Marcelo falou em seguida e depois olhou para ele.
- Marcelo. – ele disse simplesmente.
- E ela deve ser a Bela Adormecida. – Eduardo, o tagarela, falou e apontou para a jovem que dormia ao lado de Marcelo. – Como acham que viemos parar aqui? – ele olhou para o grupo que estava perto dele. Não conhecia ninguém ali, nunca os vira em lugar nenhum. – Alguém se lembra de alguma coisa? Eu tenho certeza de que tinha ido pra cama... – ele balançou a cabeça confuso.
- Minha última lembrança foi a de ter ido para a cama também. – Adriana o olhou séria.
- Morremos? É isso? – Fernanda arregalou seus olhos azuis assustados. – Eu também tinha ido para a cama!
- Talvez seja um sonho... o meu sonho e todos vocês são apenas visões. – Eric levantou os ombros com aparente arrogância.
Mônica se levantou, parou diante dele e deu um tapa com força em seu rosto. Eric foi surpreendido e deu um passo para trás olhando para ela sem acreditar. Seu rosto ficou vermelho e ela o encarou com os olhos verdes escuros brilhantes.
- Está acordado agora? – ela falou ácida. – Eu jamais teria alguém como você no meu sonho! – seus lábios se contraíram.
Eric a segurou pelo braço com força e a olhou furioso.
- Mônica... – Adriana ficou ao lado dos dois que se encaravam como se fossem se bater. – Eric... por favor. – ela colocou a mão sobre o peito dele.
- Ei, cara... ela só tá nervosa. – André se colocou ao lado dele.
- Eu também. – Eric falou entre dentes.
Eduardo se colocou entre os dois sem qualquer cerimônia.
- Então já sabemos que não é sonho e que não estamos mortos. Precisamos esfriar a cabeça. – sentia-se responsável pelo início daquela discussão. Sua avó sempre dizia que ele falava demais...
- É só largar o braço dela. – Marcelo falou com a voz impassível de onde estava, sentado sobre o feno ao lado da Bela.
Eric respirou fundo duas vezes, soltou o braço de Mônica e virou as costas indo para a porta do estábulo.
- Você... não devia ter feito isso. – Adriana falou ao lado de Mônica, que se virou e foi se sentar ao lado de Marcelo novamente.
- Eu... estou com fome... – Fernanda falou com a voz trêmula. A temperatura caía sensivelmente.
- É melhor não pensar nisso agora. – Eduardo se sentou ao lado dela. Ele também estava faminto, mas lutava para não pensar em comida.
- E agora? O que fazemos? – Adriana falou mais para si mesma e sentou-se ao lado deles. O feno era mais quente e a proximidade de outra pessoa ajudava a esquentar o corpo.
- Descansamos... Esperamos amanhecer... alguém precisa ficar de guarda caso queiram botar fogo na gente novamente. – Marcelo disse deitando-se sobre o feno deixando claro que não seria o primeiro a ficar de guarda.
- Eu fico com o primeiro turno. – Eric falou da porta enquanto esfregava os braços, mas não se virou.
- Vou ficar com você. – André falou prestativo.
- Me acordem quando estiverem cansados. – Marcelo falou deitado. – E não deixem o fogo apagar. –puxou um pedaço de sua jaqueta que cobria Bela, depois decidiu que seria melhor mantê-la junto ao corpo para se aquecer e aquecê-la. Não sabia explicar por que se preocupava tanto com ela. Não era homem de se preocupar com os outros, mas ela estava ali tão entregue e indefesa... E também tinha uma excelente qualidade para aquele momento: estava calada.
Então, ele a puxou para junto do corpo, a abraçou e cobriu os dois com sua jaqueta de couro. Os cabelos escuros dela cheiravam a fumaça. Ela estava fria, mas respirava.
Todos no estábulo ficaram olhando para Marcelo que se abraçou à Bela e cobriu-se com a jaqueta, depois trocaram olhares de constrangimento.
- Acho que é uma boa ideia para nos mantermos aquecidos... – Adriana falou e viu o sorriso no rosto dos outros rapazes. – O que acham meninas? Vamos ficar juntas e assim nos aquecemos – ela os ignorou e olhou para Mônica e Fernanda.
- Acho isso uma covardia... – Eduardo murmurou esfregando os braços. A fome começava a apertar e não sabia se conseguiria pegar no sono com o estômago roncando.
- Só precisamos nos manter aquecidos. – Mônica falou encostando-se ao corpo de Marcelo e sentiu como ele estava quente. Ele não disse nada, nem se manifestou ao comentário e aproximação dela.
Mônica abraçou Marcelo apoiando-se em suas costas e enfiou a mão debaixo da jaqueta de couro e a espalmou sobre o peito dele. Sem se virar, ele segurou na mão fria dela. Adriana se deitou ao lado de Mônica e Fernanda se deitou ao lado de Bela e colocou suas mãos debaixo da jaqueta de Marcelo e sentiu o braço dele que envolvia a cintura da adormecida. Ela deixou a mão fria sobre o braço dele.
- Não acredito! – Eduardo murmurou admirado, olhando para Marcelo num verdadeiro harém.
- Tem gente que nasceu virado pra lua... – André balançou a cabeça inconformado.
Eric olhou com raiva para a cena. Como Marcelo podia atrair todas as garotas para o lado dele sem sequer ter sugerido aquilo? Ele trincou os dentes enquanto se aproximava mais do fogo. - Me chamem quando quiserem trocar a guarda. – Eduardo se ajeitou ao lado de Fernanda e ela o olhou assustada. Seus grandes olhos azuis estavam arregalados.
- Prometo que é só para esquentar. – ele falou ficando com o rosto vermelho e se virou de costas para ela, apenas encostando o corpo ao seu, mostrando que não iria atormentá-la. Sentiu que ela estremeceu, mas não saiu dali. Ao contrário, ela se virou e o abraçou pelas costas aconchegando-se ao corpo dele.
André e Eric se olharam, concordavam que ficar de guarda no primeiro turno os tinha prejudicado...

sábado, 20 de abril de 2013

Apresentando... CRP!

Crônicas do Reino do Portal é uma série de fantasia voltada para o público jovem-adulto. É uma história que envolve 8 jovens brasileiros que acordam em um celeiro num local desconhecido. Eles não se conhecem, mas não há tempo para apresentações, pois o celeiro é incendiado e eles têm que encontrar uma maneira de fugir. Descobrem que estão em um Universo estranho e viverão várias aventuras em cenários fantásticos, com seres mitológicos, monstros e personagens que irão desafiá-los a sobreviverem e enfrentarem seus medos e suas personalidades conflitantes.
A série começou a ser escrita em 2009 e três de seus livros foram publicados em uma comunidade no orkut. Os leitores opinavam, davam sugestões, compartilhavam suas impressões e isto contribuiu para que a história ficasse ainda melhor.
Para aqueles que apreciam uma aventura fantástica ou aqueles que já jogaram RPG uma vez na vida ou ainda para os apreciadores de aventuras como Caverna do Dragão e emoções como as oferecidas pelos Jogos Vorazes!
A série é composta por sete livros e cards (em breve teremos os petiscos da arte dos cards) e será publicada pela Editora Literata.
Logo: notícias sobre lançamento do primeiro volume: O Enigma da Adormecida. ;)
E então? Prontos para a abertura do Portal?
Simone O. Marques